Veja o que se sabe sobre o adolescente que matou os pais no RJ
O caso ocorreu em Itaperuna, no Noroeste do estado
Por José Coutinho | 27/06/2025 09:44 - Atualizada às 27/06/2025 10:54

Reprodução/Facebook
Adolescente mata pais e irmão de 3 anos
O assassinato de uma família inteira em Itaperuna, no Noroeste do Rio de Janeiro, chocou o país nesta semana. Um adolescente de 14 anos confessou ter matado a tiros o pai, a mãe e o irmão mais novo, de apenas 3 anos, durante a madrugada do último sábado (21). O caso só veio à tona três dias depois, quando a avó paterna do garoto procurou a delegacia para relatar o desaparecimento dos parentes.
Na tentativa de enganar a polícia, o garoto apresentou uma história falsa. Disse que o irmão pequeno havia se engasgado com um caco de vidro e que os pais haviam saído com ele às pressas em um carro de aplicativo para um hospital. A versão não se sustentou. Após percorrer todas as unidades de saúde de Itaperuna e não localizar registros da família, a Polícia Civil decidiu ir até a casa onde eles moravam.
Durante a perícia, os investigadores encontraram manchas de sangue no colchão do casal, roupas ensanguentadas e parcialmente queimadas, além de um forte cheiro de decomposição vindo da cisterna da residência. Dentro do reservatório, a poucos metros do quarto, estavam os corpos de Daniela, de 42 anos, do marido dela, de 45, e do filho caçula, de 3 anos. O adolescente acabou confessando o crime na presença do tio.
Segundo a Polícia Civil, o jovem afirmou que matou primeiro o pai com um tiro na cabeça, depois a mãe e, por último, o irmão. Para garantir que não dormiria durante a madrugada, teria tomado suplemento pré-treino antes de cometer os assassinatos. A arma usada era do pai, que era CAC (colecionador, atirador e caçador) e a mantinha debaixo do colchão. O menino ainda tentou disfarçar os rastros do crime com produtos químicos espalhados no chão da casa, que facilitaram o transporte dos corpos até a cisterna.
O adolescente não demonstrou arrependimento. À polícia, disse que faria tudo de novo e afirmou que matou o irmão para que ele não sofresse com a perda dos pais. A frieza nos relatos e a tentativa de enganar os agentes reforçaram a avaliação da delegacia de que o jovem é calculista e possui traços de psicopatia. De acordo com o delegado Carlos Augusto Guimarães, responsável pelo caso, ele falava com segurança e rapidez, como se quisesse provar que era “homem”. As informações foram coletadas através de entrevista coletiva.
A polícia trabalha com duas possíveis motivações para o crime. A primeira é a descoberta, por parte do garoto, de um valor de R$ 33 mil que o pai teria a receber do FGTS, informação que ele encontrou no celular do pai. A segunda é uma relação amorosa virtual com uma garota do Mato Grosso, com quem conversava há cerca de seis anos, desde os tempos em que jogavam videogame online.
Segundo ele, a adolescente teria dado um ultimato para que ele fosse ao encontro dela. A polícia investiga se essa pressão envolvia a execução do crime ou apenas o rompimento do relacionamento. Após os assassinatos, o garoto chegou a agendar um Pix para comprar uma passagem e planejava trabalhar em um supermercado no estado da namorada para viver com ela.
Os corpos foram retirados da cisterna pelo Corpo de Bombeiros, com apoio da Polícia Militar. A PM também evitou que moradores tentassem invadir o imóvel para agredir o adolescente, que foi apreendido em flagrante. A Justiça do Rio de Janeiro determinou a internação provisória do adolescente por 45 dias.
A arma utilizada no crime foi localizada na casa da avó, que mora próxima ao local e que, segundo a polícia, aparentava estar bastante abalada. Ela chegou a ouvir disparos durante a madrugada, mas não imaginava que vinham da casa do neto. A investigação ainda busca esclarecer se há qualquer envolvimento da idosa.
Postagens antigas nas redes sociais ajudam a dimensionar o abismo entre a imagem da família e o desfecho trágico. Em 2022, quando o adolescente completou 11 anos, o pai publicou uma homenagem no Facebook: “Filho amado, você é mais do que um filho, é um companheirinho, um amigão. És o meu amor” . Em outro aniversário, o chamou de “anjo de Deus” e disse que ele era “10” em seu coração. O menino era descrito como um aluno exemplar e um irmão cuidadoso.
A vizinhança, em choque, relatou não acreditar no que aconteceu. Muitos moradores choravam diante da casa, onde uma tragédia planejada em silêncio se concretizou sem que ninguém percebesse. O adolescente não tinha acompanhamento psicológico e, segundo a polícia, só citou como desavenças com os pais a proibição do namoro e a suposta imposição para praticar jiu-jitsu.
Todos os demais detalhes foram colhidos no depoimento dele. Exames periciais ainda serão realizados para verificar se houve uso de medicamentos para dopar os pais.